Este blog tem por objetivo divulgar as idéias e as pesquisas do economista Sérgio Gobetti e criar um espaço para o debate em torno de vários temas relacionados à política econômica e às finanças públicas brasileiras.

domingo, 10 de outubro de 2010

Aborto e eleições: o obscurantismo de volta...

Depois de vários meses inativo, em parte por causa do acúmulo de trabalho, em parte pela falta de debates substantivos no cenário nacional, não resisti à tentação de abordar a polêmica sobre o aborto, que passou a atormentar a campanha de Dilma Rousseff. Como bem destacou o editorial deste domingo da Folha, estamos diante novamente do obscurantismo das concepções religiosas e, acrescento eu, dos pseudo-moralistas.
A mesma Igreja que hoje condena o aborto (para não falar da camisinha) em nome de Deus e da "vida" cometeu crimes atrozes durante sua história, como durante a Inquisição. Mas o que é Inquisição? O cidadão mediano brasileiro que reza pela cartilha evangélica (ou católica) e não tem memória (nem consciência) para saber (e julgar) o que ocorreu a menos de 20 anos não terá a mínima chance de saber o que significa este palavrão. E é justamente da ignorância e da miséria que se alimentam as seitas religiosas que proliferam pelo país. Elas não proliferam na Suécia ou na Dinamarca, mas nos recantos mais miseráveis do mundo.
Não haveria problema se essas seitas estivessem se proliferando em contrariedade às condições que condenam os miseráveis dos nosssos países, mas não é evidentemente o que ocorre. Pastores evangélicos se unem a políticos oportunistas e partidos de aluguel para hipnotizar o povo e perpetuar o status quo, seja o da exploração econômica, seja o da falta de condições mínimas de saúde pública, que mata milhares de vida todos os anos, inclusive por abortos clandestinos.
Não estou tirando, com isso, o direito de qualquer cidadão ter a convicção religiosa que quiser. Nem estou questionando a liberdade que cada cidadão também tem de a opinião que quiser sobre o aborto (por razões religiosas ou de qualquer natureza), mas os cidadãos que assim pensam (e, principalmente, seus líderes) também não têm direito de impor sua fé e suas opiniões sobre a nação, sendo minoria ou maioria.
O pior de tudo isso é que, em vez de se unirem contra o atraso, os candidatos cedem à ele para não perder votos ou esperando (no caso de Serra) que a adversária perca votos com o episódio. Seguem o conselho de um desconhecido que acabei ler na rede: "Dilma e Serra, mintam sobre o aborto. Mintam de forma convincente. A mentira é a última trincheira contra o farisaísmo."

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